Setor calçadista desacelera e deve crescer 1,6% em 2023

Por Amanda Krohn

A inflação mundial, a escalada dos juros norte-americanos e o endividamento crescente das famílias brasileiras devem ter impacto no crescimento do setor calçadista em 2023. Em 2022, o crescimento deve ser na faixa de 3,9% na produção, enquanto no próximo ano o incremento deve ser mais tímido, na faixa de 1,6%. Esses e outros dados foram divulgados na terça-feira (9), durante o Análise de Cenários, evento digital realizado duas vezes ao ano pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) que contou com apresentações da coordenadora de Inteligência de Mercado da entidade, Priscila Linck, e do doutor em economia e consultor setorial Marcos Lélis.

Na primeira parte do evento, Lélis destacou que a inflação mundial, impulsionada pelos problemas logísticos pós-Covid 19 e agora pelo conflito no Leste Europeu, somada ao desaquecimento de grandes economias mundiais, caso dos Estados Unidos e Zona do Euro, devem ser determinantes para a menor dinâmica de crescimento para o setor calçadista em 2023. “Na tentativa do controle inflacionário, também assistimos os Estados Unidos aumentarem os juros, o que tem impacto no câmbio”, comentou. Segundo ele, neste cenário de desaquecimento da economia mundial, as previsões de crescimento para o PIB do mundo em 2023 estão sendo revistas para baixo. “Em 2023, o mundo deve crescer apenas 2,7%, pior resultado nos últimos três anos”, disse.

Lélis ressaltou, ainda, que a economia brasileira acompanha a dinâmica mundial e que vem em desaceleração já nos últimos meses de 2022. “No Brasil, se somam aos problemas macroeconômicos, o endividamento das famílias, que está em 80%, número recorde. Isso tem impacto direto no consumo, já que as pessoas optam por consumir o básico para subsistência”, avaliou, ressaltando que hoje, a cesta básica consome 59% do valor do salário mínimo, bem acima do patamar histórico. “Em 2018, o salário mínimo consumia 47% do salário”, disse.

Na tentativa de conter a inflação brasileira, a alta dos juros também é uma realidade com impacto importante nos investimentos. Atualmente com uma inflação acumulada de 7,2% nos últimos 12 meses, o Banco Central vem aumentando a Selic. “O Brasil tem a maior taxa de juros entre os países do G20, com exceção da Argentina. Para 2022, devemos fechar com uma taxa de 13,75%, ao passo que em 2023 não devemos notar grande redução, encerrando na casa de 11,25%”, projetou Lélis. Com o cenário, segundo o consultor, o PIB brasileiro deve crescer 2,76% no ano corrente e apenas 0,68% em 2023.

Calçados

Na sequência, Priscila Linck destacou o cenário especificamente para o setor calçadista. “Aqui, somam-se aos problemas econômicos já listados, a queda da importação dos Estados Unidos, a crise argentina e a retomada das exportações chinesas, que têm impacto nos nossos principais mercados para calçados”, disse. Segundo ela, entre janeiro e setembro deste ano, a produção de calçados alcançou 621 milhões de pares, 4,7% mais do que no mesmo período do ano passado. A dinâmica de crescimento, no entanto, tem arrefecido nos últimos meses do ano.

Para 2022, a economista projeta um crescimento de 3,9% na produção de calçados, fechando o ano com 851 milhões de pares produzidos. Já para 2023, a previsão é de um crescimento mais tímido, de 1,6%. “Manteremos uma tendência de crescimento acima dos outros setores econômicos. O PIB brasileiro de 2023 deve crescer 0,7%, então temos o dobro de crescimento”, destacou Priscila. O reflexo do crescimento do setor em 2022 se deu diretamente no aumento do nível de emprego. Entre janeiro e setembro, a atividade gerou 44 mil novos postos de trabalho, encerrando o período com mais de 310 mil pessoas empregadas diretamente, o melhor registro em sete anos.

Exportações

A exportação, que teve papel determinante no crescimento da produção de calçados ao longo de 2022, deve diminuir ao longo do próximo ano. Entre janeiro e outubro, o setor exportou 119 milhões de pares, que geraram US$ 1,1 bilhão, incrementos de 20% em volume e de 55% em receita na relação com o mesmo período do ano passado. Porém, Priscila destacou que o mercado já vem refletindo o desaquecimento internacional e o aumento da concorrência chinesa nos últimos dois meses registrados. Em setembro, na relação com mesmo mês de 2021, a queda em pares foi de 6%, enquanto que em outubro essa mesma queda ficou em 12,7%. Já as exportações de calçados da China vem em incremento, tendo aumentado quase 11% no período. “A tendência para 2023 é que as exportações percam participação na produção brasileira. Chegamos a um coeficiente de exportação de 17,4% da produção, muito superior aos patamares históricos. Para 2023, esse coeficiente deve se ajustar e ficar em 15,4%, o que também denota o aumento do peso do mercado doméstico”, projetou a coordenadora.

Segundo Priscila, em 2022 as exportações devem crescer cerca de 14% em relação a 2021, em pares, totalizando mais de 133 milhões de pares embarcados ao exterior. Já para o próximo ano, deve haver uma queda de 5,7% no comparativo com 2022, embora o setor siga positivo em relação à pré-pandemia, em 2019, em 15,3%. “O aumento da participação das importações chinesas, principalmente em mercados importantes para o nosso calçado, como Estados Unidos e Argentina, terá impacto significativo”, destacou. A íntegra da apresentação no evento pode ser assistida no site.

Foto: Divulgação | Fonte: Assessoria
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