Boletim da Receita Estadual aponta impactos da Covid-19 no transporte de cargas e de passageiros

Por Gabrielle Pacheco

A sexta edição do Boletim Semanal da Receita Estadual sobre os impactos da Covid-19 nas movimentações econômicas dos contribuintes de ICMS do Estado apresenta uma análise dos efeitos sobre o transporte de cargas e de passageiros no Rio Grande do Sul.

O levantamento publicado nesta quarta-feira, 6, considera o período entre 16 de março, data das primeiras medidas de quarentena no Estado, e 1° de maio, última sexta-feira, estando disponível no site da Secretaria da Fazenda e no Receita Dados, portal de transparência da Receita Estadual

Segundo a análise, a atividade de transporte de cargas vinha registrando expansão em 2019. A partir das medidas de distanciamento e isolamento social, houve queda acentuada na emissão de Conhecimento de Transporte Eletrônico (CT-e), documento que as transportadoras emitem para cobrir as mercadorias entre a localidade de origem e o destinatário da carga. A redução em curto prazo chegou a ser de 42% no dia 5 de abril, momento em que se iniciou um processo de retomada que reconduziu o índice ao patamar de -10%, verificado nos últimos dias analisados.

O comportamento no transporte de passageiros é similar, embora ainda mais brusco. A quantidade de Bilhetes de Passagem Eletrônicos (BP-e) emitidos em curto prazo (últimos 14 dias) caiu do patamar de 1,5 milhão, no início de março, para menos de 300 mil pouco após a quarentena – redução de 80% na atividade. Apenas nas últimas duas semanas esse indicador iniciou um processo de recuperação, ainda bastante tímida, em patamares próximos a 330 mil.

“Esses dados agregam mais uma importante visão, sob a óptica das informações econômico-fiscais, a respeito do comportamento da economia gaúcha. Podemos perceber que existe uma tendência de retomada lenta e gradual das atividades”, destaca Ricardo Neves Pereira, subsecretário da Receita Estadual.

A percepção obtida por meio dos indicadores de transporte é corroborada por outras análises. A emissão de Notas Eletrônicas (NF-e + NFC-e), por exemplo, apresentou nova melhora, com índices de -13%, -9% e -5% nas semanas 5 (11 a 17 de abril), 6 (18 a 24 de abril) e 7 (25 de abril a 1° de maio), respectivamente, sinalizando estabilização das perdas.

No acumulado (16 de março a 1° de maio), a redução é de 18%, representando diminuição do valor médio diário emitido, de R$ 2,06 bilhões no período equivalente em 2019, para R$ 1,7 bilhão em 2020. “Isso significa dizer que cerca de R$ 360 milhões deixaram de ser movimentados em operações registradas nas notas eletrônicas a cada dia, o que dá uma noção da dimensão da crise que estamos enfrentando”, destaca Ricardo Neves.

Visão por tipo de atividade

Na última semana, a indústria experimentou redução de perdas na comparação com semana equivalente de 2019, de -21% para -14%. O varejo manteve e ampliou as perdas relativas, apresentado resultado negativo de 17%. O atacado, por sua vez, confirmou volatilidade já identificada ao longo da série, com ganhos relativos de 5% – resultado inferior ao observado na semana anterior, que foi de 12%.

O desempenho acumulado no período (16/3 a 1°/5) para Indústria, Varejo e Atacado são, respectivamente, de -21%, -24% e -7%.

Desempenho por setor industrial

O destaque da última semana foram os setores eletroeletrônicos e de máquinas e equipamentos, que não apresentavam resultado positivo desde o início da quarentena. Como essas indústrias produzem preponderantemente bens de capital (especialmente o setor de máquinas e equipamentos), a evolução pode indicar o início da retomada das atividades industriais em geral, embora deve ser analisada com cautela e validada nas próximas apurações.

No acumulado, os principais ganhos seguem sendo na área de produtos alimentícios e de produtos de limpeza. As principais perdas são verificadas nos setores coureiro-calçadista e de veículos.

Desempenho no varejo

As vendas em curto prazo (14 dias) tiveram ligeira recuperação na última semana, evoluindo do patamar de -25% das duas semanas anteriores para -17% no dia 1° de maio. Esse é o melhor resultado observado desde o fim de março. Além disso, destaca-se que em 28 de abril as perdas de curto prazo foram inferiores às de médio prazo, com ampliação dessa diferença nos dias subsequentes, o que confirma a tendência de lenta e gradual reação da atividade econômica.

No desempenho do varejo por região do Estado, conforme os 28 Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Corede), o perfil das vendas segue apresentando relação com o nível de participação na produção industrial. Contudo, refletindo a evolução da atividade econômica, a média das perdas de curto prazo nos Coredes mais afetados (Hortênsias, Metropolitano Delta do Jacuí, Vale do Rio dos Sinos, Sul, Produção e Serra) caiu de -26% na semana 6 (18 a 24 de abril) para -18% na semana 7 (25 de abril a 1º de maio). No mesmo sentido, o indicador de médio prazo para os Coredes elencados melhorou de -28% para -19%.

Em relação ao tipo de mercadorias, o desempenho acumulado é positivo para as vendas a consumidor final de medicamentos e materiais hospitalares (+5%) e produtos de higiene e alimentos (+3%). Para os demais produtos, entretanto, a queda continua brusca, totalizando redução de 41% no período. Somando as três categorias, a redução média é de 22%.

No Top 10 das mercadorias com maiores variações positivas do valor das vendas, ganham destaque produtos do setor de alimentos (como cereais, óleos, leite, carnes, frutas, hortícolas e peixes), da indústria química (como sabão para lavar roupa e álcool em gel) e do setor farmacêutico. Nas maiores variações negativas constam itens relacionados a vestuário, com as maiores quedas percentuais (de 70% a 80%), e veículos, com as maiores quedas em valores. Também aparecem na lista mercadorias como máquinas e aparelhos elétricos, móveis, calçados e bebidas alcoólicas.

Combustíveis

No acumulado do período (16 de março a 1° de maio), o combustível com maior queda no volume de vendas segue sendo o etanol (-61%), seguido pela gasolina comum (-32%) e pelo óleo diesel S-500 (-22%). O óleo diesel S-10, por sua vez, apresenta crescimento de 1%. Somando os quatro combustíveis, a redução média é de 25%, assim como verificado no acumulado até a semana anterior.

Em relação ao preço médio, os quatro combustíveis analisados têm apresentado movimento de queda no período recente, reflexo da atual conjuntura internacional acerca do petróleo. A gasolina comum, por exemplo, chegou a atingir R$ 4,79 no final de janeiro, estava em R$ 4,62 no dia 16 de março e passou ao patamar de R$ 3,87 no dia 1° de maio, última data de análise do Boletim.

Foto: Divulgação | Fonte: Assessoria
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