AMRIGS alerta sobre o risco de retorno da poliomielite no Brasil

Por Stephany Foscarini

Certificado em 1994 pela Organização Mundial da Saúde como livre da poliomielite (também chamada de pólio ou paralisia infantil), o Brasil voltou a ser considerado pela entidade como uma nação em risco de reintrodução da doença. O cenário preocupa a Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS).

Uma das razões para este quadro é a baixa cobertura vacinal. A meta de 95% do público-alvo vacinado, patamar necessário para que a população seja considerada protegida contra a doença, não vem sendo atingida desde 2015.

O presidente da AMRIGS, Gerson Junqueira Jr., lembra que, entre os fatores considerados críticos, está o fenômeno que vem sendo chamado pela Organização das Nações Unidas (ONU) de “Hesitação da Vacina”, que ocorre quando há a vacina disponível, mas ela não está sendo aplicada ou está sendo aplicada com atraso.

Para enfrentamento são necessárias ações que envolvem os 3 “C”: confiança, complacência e conveniência. O primeiro C está relacionado à confiança na eficácia da vacina e no sistema de saúde que as fornece. O segundo relaciona-se com a pouca percepção de risco do indivíduo em ter possibilidade de entrar em contato com a doença, desta forma, não considera a vacina necessária. E o terceiro C está ligado à conveniência, que leva em consideração a falta e\ou dificuldades de acesso aos serviços de vacinação.

A poliomielite é uma doença infectocontagiosa viral aguda, caracterizada por um quadro de paralisia flácida, de início súbito, que ocorre em cerca de 1% das infecções causadas pelo poliovírus. O déficit motor instala-se subitamente e sua evolução, frequentemente, não ultrapassa três dias. Acomete em geral os membros inferiores, de forma assimétrica, tendo como principais características a flacidez muscular, com sensibilidade preservada, e a arreflexia no segmento atingido.

Isso não quer dizer que não existam casos, mas que não estamos fazendo a adequada vigilância”.

A baixa vigilância da paralisia flácida é um dos fatores apontados também pela Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS) como um problema. Há parâmetros que precisam ser observados, segundo o médico e membro do Comitê de Infectologia da SPRS, Juarez Cunha, e o Brasil não está conseguindo fazer esse monitoramento. “Isso não quer dizer que não existam casos, mas que não estamos fazendo a adequada vigilância”, explicou.

O pediatra reforça também que é necessário ampliar a vigilância ambiental, que é a técnica de procurar o vírus no esgoto. No Brasil, apenas São Paulo realiza esse procedimento. “Vários países fazem essa vigilância. Israel detectou um caso e, após a vigilância no esgoto, foram localizados outros oito casos”, explica.

O médico salienta ainda uma característica da poliomielite que se assemelha ao que vivemos na pandemia da Covid-19. Por ser em alguns casos assintomática, a pessoa pode estar eliminando inconscientemente o vírus pelas fezes ou secreções eliminadas pela boca. É essencial que as famílias procurem os postos de saúde e vacinem as crianças.

Poliomielite no Brasil e no mundo

O Brasil, a partir de 1988, ampliou a prevenção, vacinando a população. A estratégia de vacinação oral em massa contribuiu para livrar o país do problema em 1989, quando o último caso foi registrado, segundo o Ministério da Saúde. Em 1994, toda a região das Américas foi certificada como livre da circulação do poliovírus.

Atualmente, a poliomielite existe no mundo em três países: Afeganistão, Paquistão e Nigéria. Mais recentemente, casos foram registrados em Israel, chamando atenção por ter ocorrido em um país desenvolvido e com grande estrutura de vigilância em saúde.

Brasil, Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Paraguai, Suriname e Venezuela são os países das Américas com alto risco de volta da poliomielite, segundo informes divulgados pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).

Foto: Divulgação | Fonte: Assessoria
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